Carlos Nejar – literatura nacional e os “limites ilimitados” da textualidade

A literatura brasileira contemporânea encontra-se eivada de características muito interessantes, resultantes de processos de produção que se diversificaram bastante em todo o território nacional e ao longo das últimas décadas do século XX e da virada para o século XXI.

As possibilidades de diálogos entre textos distintos ou entre textos mais antigos e outros mais novos sempre foram recorrentes da produtividade literária, mas, na contemporaneidade, adquirem um novo acento, podendo revelar-nos os “limites ilimitados” da textualidade. Por isso, aqui teço algumas considerações sobre os deslimites da palavra nejariana e deixo, ao final desta comunicação, uma sugestão de leitura. Carlos Nejar, imortal da Academia Brasileira de Letras, nos traz a experiência do homem contemporâneo sob o viés da atemporalidade da arte e da experiência literária. Muitos de seus textos trazem belíssimas e elaboradas referências a clássicos da literatura mundial, assim como também carregam consigo referências ao discurso religioso/espiritual ou à história, promovendo o que nas Letras chamamos de fenômeno da intertextualidade.


A intertextualidade é um dos processos mais antigos da atividade criadora, pois a intercomunicação entre textos de diferentes épocas ou de distintas áreas do saber não é algo recente, mas, antes, uma característica inerente de toda atividade literária. Todavia, na contemporaneidade, por meio de uma subvertida fratura com o tradicional, ela pode nos proporcionar dicções poéticas estimulantes.

Com mais de 100 obras, entre livros de poesias, rapsódias, prosopoemas, obras infanto-juvenis, novelas, romances, ensaios, contos e antologias, em duas ou mais línguas, além das traduções de obras de outros autores, bem como ensaios e obras de crítica literária, Nejar pode ser considerado um autor bastante ativo e atualizado. Sua essência, naturalmente moldada na poesia, tem tomado, nos últimos anos, rumos para o que chamo de prosa poética, onde encontramos mais fortemente traçados os laços entre filosofia, religião e literatura.
Com uma diferenciada experimentação linguístico-temática, Nejar encontra no imaginário do sagrado, na exploração dos significados e das imagens, e no trabalho com figuras ficcionais clássicas, ou de grande alcance ocidental, um material muito rico para a confecção dos seus textos.

Um exemplo é a obra Matusalém de Flores, que neste ano completa 10 anos de sua publicação. As recriações em torno do protagonista do enredo, Noe Matusalém, que em muitos aspectos nos faz lembrar Dom Quixote de La Mancha, do espanhol Cervantes (século XVII), abrem aos leitores e leitoras uma outra possível relação com mundos imaginados. Há na trama de Matusalém de Flores a presença de todos os grandes elementos universais de uma boa leitura: amor, aventura, amizade, ódio, guerra e conflitos internos.

A obra é uma grande oportunidade de observarmos o amálgama existente entre o que é ou pode ser imaginado e aquilo que pode vir a ocorrer no “mundo real”. É justamente por isso que a literatura se configura como espaço privilegiado para a experessão humana. Assim, fica aqui a minha recomendação de leitura aos senhores e senhoras!

 

Cínthia Maritz dos Santos Ferraz Machado é Mestre em Letras – Literatura, Cultura e Sociedade pela Universidade Federal de Viçosa, MG, e Doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. Possui ênfase teórica em Literatura Comparada e é estudiosa dos textos de Carlos Nejar há mais de uma década.

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